A escola, localizada na Bolívia, é reconhecida como uma das experiências de educação mais significativas da América Latina e do Caribe

Dia Internacional dos Povos Indígenas: CLADE comemora a restauração da Escola Ayllu de Warisata

10 de agosto de 2019

A escola, localizada na Bolívia, é reconhecida como uma das experiências de educação mais significativas da América Latina e do Caribe

No contexto do Dia Internacional dos Povos Indígenas (9 de agosto), comemoramos uma importante notícia: o governo da Bolívia realizou a entrega oficial da Escola Ayllu de Warisata restaurada.

Tendo funcionado inicialmente por um curto período, de 1931 a 1940, a escola é considerada uma das experiências de educação mais significativas da América Latina e do Caribe, por transmitir os princípios de liberdade, solidariedade, reciprocidade, revalorização da identidade cultural e produção comunitária e sustentável, em harmonia com a mãe terra. A escola, reconhecida como monumento e patrimônio nacional, foi restaurada e segue viva, assim como os ideais que levaram à sua criação.

Refeitório comunitário da Escola Ayllu de Warisata. Foto: Carlos Salazar

Seus estudantes têm oficinas de artes e espaços onde aprendem técnicas de criação agrícola e de animais, mantendo as tradições dos povos originários e complementando o orçamento da escola.

A força organizativa do trabalho comunitário liderado pelo Parlamento Amauta [parlamento indígena de Bolívia] está na memória e na prática. A comunidade é uma prova da expansão dessa experiência, e permitiu o diálogo com outros movimentos indígenas no país e na América Latina e no Caribe.

“O orgulho de ter iniciado esse processo também lhes confere um importante compromisso com a Lei Nacional de Educação ‘Avelino Siñani e Elizardo Pérez’ e o modelo sociocomunitário produtivo, que traduz a proposta pedagógica para a lei”, explicou David Aruquipa, diretor executivo da Campanha Boliviana pelo Direito à Educação (CBDE).

Em 2017, o Parlamento Amauta entrou em contato com a CBDE para alertar sobre o estado de deterioração em que a Escola Ayllu se encontrava. A Campanha, então, dirigiu-se aos Ministérios da Cultura e da Educação para pedir providências. Membros das equipes da CLADE e da CBDE visitaram a Escola de Warisata em 5 de dezembro de 2017. Nessa ocasião, foram recebidos pela comunidade indígena, por docentes, diretoras/es escolares e estudantes de Warisata, que instalaram uma exposição, com o tema: “Interculturalidade do saber e dos conhecimentos ancestrais”, na qual foram apresentados aspectos culturais, geográficos e históricos de vários departamentos do país.

Visita da CLADE e da CBDE a Warisata. Foto: Arquivo CLADE

“Foi uma reunião muito emocionante, na qual nos apresentaram uma carta e um projeto, solicitando apoio para a restauração da escola”, afirmou Aruquipa. Em resposta à solicitação das comunidades educativas e dos movimentos indígenas, representantes da CBDE e da CLADE tiveram uma reunião com o Ministro da Educação do Estado Plurinacional da Bolívia, Roberto Aguilar, e a diretora de Planejamento do Ministério, Susana Postigo. Na ocasião, enfatizaram a magnitude e a importância dessa experiência.

Além disso, a CBDE produziu o livro “Esboços da pedagogia libertária no altiplano”, que foi apresentado em um diálogo regional sobre os sentidos da educação para o desenvolvimento sustentável, realizado no âmbito da 72ª Assembleia Geral da ONU e como parte das comemorações do aniversário do educador popular Paulo Freire. A Campanha Boliviana também organizou uma exposição fotográfica que apresenta a jornada de Warisata, por meio de 60 imagens históricas de autoria de Carlos Salazar, um dos ideólogos da escola. As fotos foram cedidas à Campanha pela família do educador, para sua difusão.

Exposição de fotos sobre Warisata organizada pela Campanha Boliviana. Foto: CBDE

A CBDE doou a mostra fotográfica à escola para que fique exposta no Pavilhão do México. No dia 2 de agosto, celebração do 88º aniversário de Warisata, David Aruquipa visitou a escola restaurada, em um ato conjunto com o Ministério da Educação, para entregar a exposição fotográfica à comunidade de Warisata. Cecilia Salazar de la Torre, filha do autor das fotos, e David Aruquipa se comprometeram a preparar a candidatura da exposição fotográfica a memória documental do mundo.

Imagem que faz parte da exposição retrata a comunidade educativa de Warisata. Foto: Carlos Salazar

“Na ocasião, o Ministério inaugurou a construção de um espaço multifuncional para a comunidade de Warisata e agradeceu a nossa contribuição nesse processo. Anunciou também o compromisso do governo em continuar atuando para que Warisata se torne um complexo educacional e uma experiência de referência para os âmbitos regional e internacional”, afirmou o diretor executivo da CBDE.