Diálogos para a transformação social: entrevistas destacam o legado de Paulo Freire para as democracias
16 de outubro de 2021No contexto da campanha “Paulo Freire Vive: Uma educação para a democracia”, que aconteceu em setembro, organizada pela Campanha Latino-Americana pelo Direito à Educação (CLADE), articulada à Campanha Latino-americana e Caribenha em Defesa do Legado de Paulo Freire, organizada pelo Conselho de Educação Popular de América Latina e Caribe (CEAAL), realizamos entrevistas em que se abordou a importância do legado do educador brasileiro para a realização de uma educação emancipadora e transformadora, que fortaleça as democracias
Veja a seguir duas das entrevistas.
Entrevistada: Antônia Vanderlucia de Oliveira Simplício, de MST Brasil.
Integrante do setor de formação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) do Brasil, Antônia faz parte da coordenação de Cursos sobre a Realidade Brasileira do movimento e conversou com a CLADE sobre a importância de Paulo Freire na educação praticada pelo MST.
Nascido oficialmente em 1984, quando o Brasil vivia um regime militar ditatorial, o MST é o movimento social mais antigo do país e hoje é constituído por cerca de 350 mil famílias que lutam pelo direito à terra no país.
Para além de sua luta pela reforma agrária, o MST é referência também na atuação pela conquista de outros direitos, entre eles a educação no campo e a agroecologia.
Na conversa, a entrevistada aborda pontos, como o contexto político-pedagógico brasileiro, a influência do Paulo Freire na educação e na prática pedagógica do MST e a importância da educação para o fortalecimento da igualdade de gênero, da cidadania e para a superação das injustiças, assim como o enfrentamento das crises ambiental e sanitária que vivemos.
Veja a entrevista a seguir.
Entrevistada: Crispina Rodriguez, doutora em sociologia de Cabo Verde
Doutora em Sociologia de Cabo Verde, Crispina Rodriguez ocupou vários cargos políticos no país, nomeadamente de deputada por dez anos e vice-presidenta do Parlamento e do Partido da independência do país, o PAICV. Foi, ainda, Presidente e cofundadora da organização das mulheres de Cabo Verde. Atualmente aposentada, sua última ocupação antes de se retirar foi de Embaixadora de Cabo Verde na República de Cuba. Tem o estatuto de Combatente da liberdade da Pátria e é membro da Fundação Amílcar Cabral, herói nacional e pai da independência de Cabo Verde.
Crispina conheceu o educador brasileiro Paulo Freire, durante sua jornada em Cabo Verde e Guiné-Bissau, logo do processo de independência desses dois países. De acordo com Crispina, o pensamento e o legado de Paulo Freire foram fundamentais para implementar uma política de alfabetização de pessoas jovens e adultas no país, a partir de uma perspectiva de educação descolonizadora, para a democracia, liberadora das opressões e imposições de que era alvo o povo africano naquele momento.
Nesse diálogo com CLADE, Crispina contou suas vivências no contato com Paulo Freire e enquanto testemunha do processo de implementação de políticas educativas e de alfabetização inspiradas na perspectiva freireana de educação liberadora e democrática, bem como seus efeitos em termos de democratização e transformação social em Cabo Verde.
Paulo Freire esteve em Guiné-Bissau e Cabo Verde em 1977 e 1979, pós-independência desses países (a independência de Cabo Verde ocorreu em 1975, tendo Freire chegado ao país dois anos depois, a convite das autoridades responsáveis por impulsionar políticas de educação e alfabetização para os contextos desses Estados).
Paulo Freire defendia uma educação descolonizadora e descolonizada, pensada a partir dos próprios africanos e africanas, para o pensamento crítico, a participação social, a democracia e pertinente para sua própria realidade. Segundo Crispina, esse pensamento se instaurou e foi reconhecido nas políticas de Educação de Pessoas Jovens e Adultas e educação básica/secundária em Cabo Verde, sendo que esse legado permanece vivo no país até hoje.
Veja a entrevista completa:
#PauloFreireVive… e é vital para fortalecer nossas democracias
1 de setembro de 2021A Campanha Latino-americana pelo Direito à Educação (CLADE), desde sua fundação, asumiu o pensamento e pedagogia de Paulo Freire como um dos seus principais fundamentos para a luta pelo direito humano à educação na América Latina e Caribe.
A educação emancipadora, o pensamento crítico, a transformação dos âmbitos e relações educativas nos espaços de construção coletiva de saber, leitura dos contextos, busca de alternativas e ações transformadoras no horizonte da democracia, têm sido linhas de trabalho estratégico da CLADE.
Neste contexto e diante da celebração do centenário de Paulo Freire, que será realizada no próximo dia 19 de setembro, a CLADE, articulada à Campanha Latino-americana e Caribenha na Defesa do Legado de Paulo Freire, organizada pelo Conselho da Educação Popular da América Latina e Caribe (CEAAL), dá início a um setembro de ações de comunicação, sensibilização e diálogo para celebrar a importância do legado de Freire para a garantia de uma educação emancipadora e crítica que fortaleça as democracias em nosso continente e em todo o mundo.
Cada semana do mês, partindo do dia 3 de setembro, membros da CLADE realizarão e divulgarão webinários, mensagems e materiais em diversos formatos compartilhados em redes sociais e outros canais de comunicação para destacar diferentes conceitos relacionados ao legado de Freire para a realização de uma educação emancipadora e democrática.
- Semana 1: Do 3 ao 10 de setembro, serão enfatizadas as mensagens e ações sobre a importância do Freire para a democracia, representada pela cor azul.
- Semana 2: De11 a 17 de setembro, serão destacadas mensagens, obras artísticas e materiais sobre liberdade de expressão e as manifestações artísticas e materiais sobre a liverdade de expressão e manifestações artísticas em relação à educação a partir da perspectiva freiriana, representadas pela cor violeta.
- Semana 3: Del 18 al 24 de septiembre, será el momento de visibilizar y divulgar mensajes y entrevistas, reforzando la perspectiva del diálogo en la educación freireana y su importancia para la transformación social, siendo estos conceptos representados por el color naranja.
- Semana 4: Ya la semana final, del 25 al 30 de septiembre, con el color verde, irá señalar actividades y mensajes sobre el legado de Freire para la garantía de la Educación de Personas Jóvenes y Adultas (EPJA) como un derecho humano fundamental clave para promover el desarrollo sostenible, los derechos humanos y, con ellos, nuestras democracias.
Entérate a continuación de la agenda prevista para el mes, y sigue nuestras actualizaciones sobre esta campaña por aquí y las redes sociales CLADE: FB y TW: @redclade / IG: @red.clade, con el hashtag #PauloFreireVive
Programa completo
2 de septiembre
Webinario Paulo Freire 100 años, Esperanzar y Resistir en Movimiento
Organiza: CEAAL
3 de septiembre
Evento internacional: Pensamientos y prácticas de Paulo Freire para responder frente a las amenazas a la democracia: perspectivas desde los continentes
Organiza: CLADE
11 de septiembre
Webinar: Repensando la alfabetización en tiempos de pandemia y de la era digital
Organiza: Coalición Colombiana por el Derecho a la Educación (CCDE).
Hora: 9:00 a 11 am (hora Colombia).
Más información: Un conversatorio que reunirá teóricas y teóricos para dialogar en torno a la reconceptualización de la alfabetización para personas jóvenes y adultas, en miras de fortalecer las recomendaciones hacia la VII CONFINTEA. El Conversatorio abordará la resignificación del concepto de Alfabetización, el contexto político y económico de la EPJA y las necesidades de una alfabetización contextualizada. Invitada: Miriam Camilo, directora de EPJA en República Dominicana.
Transmisión por Facebook Live @CoalicionEducacionColombia
13 a 19 de septiembre
Difusiones de obras artísticas sobre EPJA y en homenaje a Paulo Freire.
Organiza: CLADE.
Dónde acompañar: a través de redes sociales de la CLADE (FB y TW: @redclade / IG: @red.clade).
14 de septiembre
Programa radial especial sobre el centenario de Paulo Freire
Organiza: ALER.
Hora: a las 4 pm, hora de Quito, con 15 minutos de duración.
Enlace aquí en breve.
19 y 20 de septiembre
Plenaria Mundial de Educación Popular
Organiza: CEAAL, en alianza con Red Estrado, Consejo Mundial de Iglesias y muchos otros actores más.
Se compartirán más informaciones pronto.
20 a 25 de septiembre
Serie de entrevistas sobre Paulo Freire, transformación social y democracia.
Organizan: CLADE, ALER y Pressenza.
Dónde acompañar: a través de redes sociales de la CLADE (FB y TW: @redclade / IG: @red.clade) y página web: www.redclade.org.
25 de septiembre
1) Encuentro EPJA Transformando Vidas
Organiza: Coalición Colombiana por el Derecho a la Educación (CCDE)
Hora: 9:00 am a 6:00 pm (horario de Colombia).
Más información: Encuentro de educación de Personas Jóvenes y Adultas rumbo a la CONFINTEA VII. El evento se realizará de manera híbrida, con 50 personas presenciales en el Congreso de la República de Colombia y transmisión e interacción de manera virtual. Allí se abordarán los temas: Financiación de la educación, políticas públicas educativas, juventud EPJA, currículo docente. Link de registro y más información pronto.
2) Jornada para compartir una sistematización de la campaña Paulo Freire Vive, de CEAAL.
Organiza: CEAAL.
Hora y otros detalles a confirmar.
27 de septiembre
Evento internacional: Educación para personas Jóvenes y Adultas en América Latina y Caribe: situación, testimonios y pensamiento freireano
Organizan: CLADE, con Plataforma de redes regionales por la EPJA en América Latina y el Caribe
Hora: de 11h a 13h (horario de Brasil, GMT-3).
Informaciones: Presentación de resultados de los estudios “La situación de la Educación con Personas Jóvenes y Adultas en América Latina y el Caribe en contexto de pandemia: Panorama descriptivo analítico” y “La Educación de Personas Jóvenes y Adultas para migrantes y refugiados en América Latina y el Caribe: Contexto, experiencias y situación en el marco de la pandemia”, en diálogo con la Plataforma EPJA, en ruta hacia la Confintea VII, y con el colectivo Freire Vive.
El evento tendrá traducción simultánea a español, creole, portugués, inglés y francés, además de interpretación en lengua de señas internacional.
Link de registro y más información aquí pronto.
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Festival por la Dignidad de los Pueblos 2021. Artes para Respirar!!
#FestivalPorLaDignidadDeLosPueblos2021 #ArtesParaRespirar será un Espacio de encuentro entre diversas luchas en toda nuestra Abya Yala, y el mundo, a través de expresiones artísticas.
Organizan: CEAAL, ALER y otras redes hermanas.
Live por Facebook e Youtube: @Festival por la Dignidad
Más información: https://www.facebook.com/watch/?v=523988815345029
Agenda:
- Sábado 11 de septiembre (Primera Jornada: Educación Liberadora y Legado de Paulo Freire)
- Sábado 9 de octubre (Segunda Jornada: Cuerpos y Territorios)
- Domingo 14 de noviembre (Tercera Jornada: Encuentros Sur – Sur)
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Podcast: Campaña Brasileña hace serie de entrevistas con pensadores sobre la vida y la obra de Paulo Freire
Escucha la serie de 4 episodios en portugués, en Eduquê, podcast producido por la Campaña Brasileña por el Derecho a la Educación, y también el podcast internacional FreshEd, de Will Brehm
Las personas entrevistadas son: Sérgio Haddad, autor de “O Educador: Um Perfil de Paulo Freire” (Editora Todavia); Vitor Barbosa, educador y presidente de Associação Angolana para a Educação de Adultos; Luiza Cortesão, profesora en Universidade do Porto y presidenta de la dirección del Instituto Paulo Freire Portugal; Daniel Cara, profesor de la Facultad de Educación (FE) de la Universidad de São Paulo (USP) y dirigente de la Campaña Brasileña.
Primer episodio: Sérgio Haddad.
Escucha y suscribe a través de tu plataforma de podcasts favorita.
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>> Entérate también de otras acciones que se están programando para septiembre, a través de los canales de la campaña Paulo Freire Vive, de CEAAL:
https://ceaal.org/v3/campanha-defensa-legado-paulo-freire/
https://www.facebook.com/paulofreirevive/
A Educação que Necessitamos para o Mundo que Queremos – Perspectivas de adolescentes e jovens da América Latina e Caribe
6 de agosto de 2020O documento foi elaborado pela CLADE com o apoyo do escritório do UNICEF para a América Latina e Caribe e reforça e sistematiza as demandas e olhares de adolescentes e jovens que foram recibidos no contexto da campanha “A Educação que Necessitamos para o Mundo que Queremos”.
Realizada de outubro de 2019 a abril de 2020, a campanha buscou reunir e dar visibilidade Às vozes dos e das adolescentes e jovens da região: suas lutas, demandas e opiniões, assim como suas propostas e desafios relacionados ao direito humano à educação.
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Estudantes da América Latina e do Caribe respondem: qual é a educação de que necessitam?
15 de junho de 2020“A educação que estamos propondo, como juventudes latinoamericanas, tem que servir primeiro para garantir direitos, como uma ferramenta democratizadora, que fomente a emancipação do pensamento e dos corpos”, afirmou o jovem nicaraguense Alexander Guevara, em resposta a uma das perguntas do público do diálogo virtual “A Educação de que necessitamos para o mundo que queremos: perspectivas de adolescentes e jovens da América Latina e do Caribe”, realizado pela CLADE. O evento aconteceu en março, no marco da campanha #AEducaçãoDeQueNecesitamos para o mundo que queremos, que reuniu e divulgou as vozes, opiniões e sugestões de adolescentes e jovens da região sobre seu direito à educação.
Assim como Alexander, as e os jovens Alejandra Solano, da Costa Rica; Angélica Pedraza e Eylin Ríos, do México; Ariana Rodríguez e Felipe Urbas, da Argentina; Gabriel Villarpando, da Bolivia; Jazmín Elena, de El Salvador; Juan Pablo Castellanos, da Colômbia; Paulocesar Santos, do Perú; e Tony Barahona, de Honduras, analisaram e responderam as perguntas do público que não puderam ser aprofundadas ou respondidas no diálogo virtual.
Leia a seguir suas reflexões:
Para que deve servir essa educação que vocês querem?
Alexander Guevara (Nicarágua) – A educação que estamos propondo, como juventudes latinoamericanas, tem que servir primeiro para garantir direitos, como uma ferramenta democratizadora, que fomente a emancipação do pensamento e dos corpos. Ela deve servir para promover relações simétricas entre pares, para romper com os paradigmas hegemônicos dos sistemas autoritários que criminalizam a participação cidadã.
Ariana Rodríguez (Argentina) – Creio que a educação que nós jovens queremos, buscamos e construímos todos os dias em nossa luta é a que nos construa como sujeitos críticos das próprias realidades que vivemos e como sujeitos transformadores, que essa crítica possa transformar-se em algo positivo, não apenas para a educação, mas também para a sociedade. Estar em um lugar onde possamos nos sentir confortáveis e confortáveis em família e que com base nisso e com base em toda essa realidade que vivemos, a educação possa nos formar em conteúdo, experiência e que isso nos torne sujeitos críticos de nossa própria realidade, para construir uma sociedade e um mundo melhor.
Jazmín Elena (El Salvador) – Essa educação que exigimos de fato é para poder ver uma verdadeira transformação social em nossos contextos, em nossos países e na região latinoamericana, porque nós é que temos poucas possibilidades de ter uma educação de qualidade, gratuita e universal. Há poucos países que conseguiram isso e, bem, sabemos os custos que isso teve, mas tem muitos países na região onde ainda precisamos disso para poder ver uma verdadeira transformação social, uma verdadeira projeção na vida e, bem, que essa seja uma via para que se respeitem nossos direitos.
“La educação deve servir para garantir que todos desenvolvamos nossas capacidades e projetos de vida, tanto pessoais, quanto coletivos. Para que nos vejamos habilitados para o exercício responsável de nossa liberdade e a busca de justiça como cidadãos.” (Paulocesar Santos, do Peru)
Paulocesar Santos (Peru) – Acredito que deve servir para garantir que todos desenvolvamos nossas capacidades e projetos de vida, tanto pessoais, quanto coletivos. Para que nos vejamos habilitados para o exercício responsável de nossa liberdade e a busca de justiça como cidadãos. Isso quer dizer uma educação com opções flexíveis que garantam trajetórias educativas bem-sucedidas para todas as pessoas e que contribua para a afirmação de princípios e valores democráticos.
Quais são as expectativas de transformação educativa dos jovens?
Angélica Pedraza (México) – Nós, jovens, vemos a transformação educativa a partir da perspectiva de uma educação libertadora mais autodidata, que não se limite a uma sala ou a um livro, ou seja, [que não seja] uma educação bancária, mas sim uma educação que esteja envolvida na retroalimentação e em alternativas inovadoras para o processo de ensino e aprendizagem.
Gabriel Villarpando (Bolivia) – Nós, jovens, estamos muito mais envolvidos atualmente em diferentes aspectos e necessidades conforme nosso contexto, então são muitas as expectativas que temos para gerar uma mudança educativa. Elas podem envolver tecnologias, por exemplo, ou envolver também ferramentas que são muito mais inovadoras, atuais, que vão estar de acordo com nosso contexto, com nossa vida cotidiana e, especialmente, que possamos como jovens nos envolver de forma direta, de acordo com nossas necessidades, e poder exigir a adequação das exigências que nós temos a uma educação de que necessitamos. Assim, as expectativas dos [e das] jovens, sobretudo as de um jovem ativista, referem-se ao trabalho de exigibilidade de uma reforma educativa que esteja de acordo com nosso contexto e necessidades.
“Podemos dizer que necessitamos uma educação propositiva, uma educação em constante discussão, uma educação renovadora, que é a que têm os diferentes países que são desenvolvidos.” (Tony Barahona, de Honduras)
Tony Barahona (Honduras) – Podemos dizer que a educação hondurenha é uma educação positivista, é uma educação que premia a acumulação de conhecimento, mas esses conhecimentos não podem ser discutidos, nem trabalhados ou recolocados. Então, ela vem sendo como uma educação, digamos, cumulativa ou, como definem alguns pedagogos marxistas, como uma educação bancária, em que os estudantes são apenas receptores que acumulam e acumulam, memorizam conhecimento. Mas o país merece uma educação diferente, em que exista uma dialética na qual se possa construir pensamentos crítico para gerar cidadãos conscientes que possam resolver problemas ao seu redor. Portanto, podemos dizer que necessitamos uma educação propositiva, uma educação em constante discussão, uma educação renovadora, que é a que têm os diferentes países que são desenvolvidos.
Como é o mundo que se quer?
Alejandra Solano (Argentina) – No meu caso quero um mundo mais empático, onde sejamos capazes de perceber a dor e as realidades que os outros enfrentam. Isto é, um mundo menos individualista, onde possamos ver para além da bolha que cada um carrega sobre suas cabeças e entender que nem todos estamos em igualdade de condições, nem enfrentamos os problemas da mesma maneira. Isso resultaria num mundo mais solidário, onde as pessoas não pensem duas vezes antes de estender a mão aos que mais precisam, ou de dar e oferecer mais aos que têm menos.
Juan Pablo Castellanos (Colômbia) – O mundo que desejo e quero como jovem é um mundo ao alcance de nossos sonhos, com garantias dignas para todos e todas, com uma democracia sem conveniências, uma equidade social e que se garantam direitos para todas as pessoas. O caminho para o sucesso para conseguir os objetivos propostos por todas as pessoas é a Educação, já que a educação é a ferramenta mais forte que o mundo tem para transformar nossa sociedade. Sempre digo que todas as pessoas têm missões nesse mundo, com muitos desafios, claro que sim, que temos que enfrentar de uma maneira positiva e responsável para a construção de uma sociedade melhor e ao alcance de nossos sonhos. Uma sociedade sem machismo, uma sociedade sem xenofobia, sem racismo, uma sociedade digna e inclusiva, tolerante, participativa e construtiva para criar entornos que garantam direitos e [entornos] de satisfação social.
Como deve ser a educação para que as e os jovens não achem mais interessante entrar para o crime organizado?
Alexander Guevara (Nicaragua) – Primeiro, a educação deve ser uma educação laica e livre, uma educação que seja política, que me garanta o direito de decidir, o direito de ser quem eu quero ser, sem que isso implique em alguma transgressão à ordem social. Deve ser uma educação artística que fomente a pedagogia libertadora.
“Como tirar essas pessoas [de grupos criminosos] para que tenham maiores possibilidades na vida? Aí é onde entra a prevenção. Sinto que os sistemas, os governos devem buscar medidas preventivas ou alternativas para que os [as e os jovens] possam reinserir-se na sociedade” (Jazmín Elena, de El Salvador)
Jazmín Elena (El Salvador) –
Creio que primeiro devemos redirecionar essa pergunta, perguntando-nos o que fazer para que os jovens que já estão dentro desses grupos possam buscar uma via para abandoná-los e para que entrem novamente no sistema educativo, porque esse problema da violência social tem passado de geração em geração e os jovens que estão atualmente nessa situação podem ser de famílias que estiveram por décadas dentro desses grupos.
No caso de El Salvador, isso vem se apresentando inclusive depois dos acordos de paz, ou seja, no período pós-guerra. E esse fenômeno cresceu tanto que se pode dizer que agora a maioria dos meninos e meninas que estão dentro desses grupos sem querer estar, sem que o sistema lhes desse um apoio verdadeiro, ainda se encontram ali, muitas vezes para se proteger..
Então a pergunta é: como tirar essas pessoas para que tenham maiores possibilidades na vida? Aí é onde entra a prevenção. Sinto que os sistemas, os governos devem buscar medidas preventivas ou alternativas para que os [as e os jovens] possam reinserir-se na sociedade e por outro lado para prevenir que outros jovens entrem. Os Estados têm que dar maiores oportunidades. Nesse caso, a educação pública cumpre um papel fundamental para que esses jovens que vivem nas zonas vulneráveis possam ter uma maior possibilidade de crescimento educativo, para que suas expectativas de vida possam ser melhores.
“A educação da Finlândia não funcionaria na Argentina, Brasil, Peru, Bolívia ou Haiti, porque não somos a Finlândia” (Felipe Urbas, da Argentina)
Felipe Urbas (Argentina) – Acho que em geral a participação em grupos criminosos acontece por uma falta na educação, por um erro dos educadores, por um erro do Estado, por um erro da forma, por não entender os contextos sociais onde se dá [a educação]. Por isso, sempre vou contra essa ideia de que queremos a educação da Finlândia.
A educação da Finlândia não funcionaria na Argentina, Brasil, Peru, Bolívia ou Haiti, porque não somos a Finlândia. O mesmo acontece aqui, a educação latinoamericana tem que ser uma educação muito centrada na retenção dos alunos. Infinitas vezes acontece dos alunos irem aos colégios para comer e a educação não tem que desempenhar esse papel.
A educação tem que dar o espaço para que os meninos e meninas evoluam na vida, não só em termos acadêmicos, mas também em termos pessoais. Por isso, é importante que o ambiente seja de compreensão. Às vezes, será necessário priorizar mais a psicologia e a pedagogia, e isso não está mal. É mais importante que uma pessoa esteja mentalmente sã do que que ela saiba quando caiu o império romano.
Alejandra Solano (Argentina) – Em primeiro lugar, a educação deveria ser horizontal, em que todas e todos estejamos na mesma altura e ninguém se sinta mais ou menos do que ninguém.
Temos que mudar o sistema magisterial na hora de dar aulas e o tornar mais dinâmico, que seja mais interessante para as e os estudantes. Mudá-lo para que estejamos dentro das salas de aula e não estejamos fazendo sempre a mesma coisa, escutando um professor que algumas vezes não sabe como dar aulas, nem transmitir a matéria de uma forma que seja interessante para nós. Também o sistema deve tornar-se mais compreensivo e entender que nem todos vão na mesma velocidade, alguns levam pouco tempo e alguns vão mais lentos por não terem as mesmas facilidades na hora de estudar e isso não significa que não vão cumprir a meta esperada. É por isso que é da maior importância oferecer uma variedade de horários e sistemas para que ninguém fique para trás e para que a educação se torne acessível às pessoas que já passaram da faixa etária que esse sistema exige e, por sua vez, cujas condições talvez dificultem o acesso em um horário diurno, seja porque são pais ou porque trabalham.
Paulocesar Santos (Peru) –
Creio que deve servir para garantir que todos desenvolvamos nossas capacidades e projetos de vida tanto pessoais quanto coletivos. Para que nos vejamos habilitados para o exercício responsável de nossa liberdade e a busca de justiça como cidadãos. Ou seja, uma educação com opções flexíveis que garantam trajetórias educativas exitosas para todas as pessoas e que contribua para a afirmação de princípios e valores democráticos na formação de cidadãos.
Em primeiro lugar, eu iria aos centros educativos e os converteria em espaços onde a aprendizagem seja uma experiência gratificante e [que] também sejam espaços de convivência baseada no respeito e valorização do outro. Digo isso porque acredito que dessa forma pode-se promover um conjunto complexo de aprendizagens a que todas as pessoas têm direito.
Também acredito que a educação secundária deve ser articulada ao mundo do trabalho e, bem, isso vai de mãos dadas com a ideia de ampliar a educação superior, a educação técnica produtiva, a educação alternativa e a educação artística.
Por último: melhorar as trajetórias educativas dos estudantes. Refiro-me a reduzir a defasagem e assegurar a conclusão das trajetórias educativas dos estudantes no tempo previsto.
“É necessário ter uma educação em que deixemos de lado o racismo e a desigualdade ou qualquer forma de discriminação, aceitando a diversidade de pessoas e buscando um ambiente são, onde todas e todos tenhamos as mesmas oportunidades” (Eylin Ríos, do México).
Eylin Ríos (México) –
É verdade que nós, os jovens, somos o futuro de nosso país, entretanto é triste ver que muitas vezes podemos seguir um caminho fácil, buscando benefícios em lugares inadequados, cheios de corrupção. E a principal causa é que nem todos contamos com recursos para ter acesso a uma boa educação, cuja realização seja correta.
Como jovem, acho que a educação é um direito para todos e todas, que deveríamos exercer sem limites e com algumas estratégias para garanti-lo. Por exemplo, há pessoas que não têm uma boa situação econômica. Por isso, temos que exigir uma educação gratuita e que nossos governos zelem mais pela educação pública.
É necessário ter uma educação em que deixemos de lado o racismo e a desigualdade ou qualquer forma de discriminação, aceitando a diversidade de pessoas e buscando um ambiente são, onde todas e todos tenhamos as mesmas oportunidades. A educação también deve garantir a igualdade de gênero.
Outra estratégia é que busquemos que nossos governos, democracias, nos escutem, que zelem mais pela educação e que nos deem planos de trabalho, materiais e boas instalações para que nós, os jovens, tenhamos uma motivação para seguir estudando. Que tenhamos e que nos garantam uma educação de qualidade.
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É necessário inovar a cultura (unindo-a à tecnologia) para uma melhor educação?
Angélica Pedraza (México) – É indispensável atender as exigências do mundo atual, de un mundo globalizado, que já não se conforma apenas com memorizar conteúdos, devemos envolver a tecnologia, mas como uma ferramenta que nos ajude a melhorar esses processos de ensino e aprendizagem, o que não só consiste en inovar a cultura de aprendizagem, mas também em inovar a nós mesmos.
“Queria mencionar a importância que vêm tendo as artes e as produções de conteúdo nessa quarentena, sabendo e nos mostrando que não se pode viver sem a arte” (Alejandra Solano, da Costa Rica).
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Alejandra Solano (Costa Rica) – Sim, é muito importante que andem de mãos dadas e que nós aprendamos a utilizar a tecnologia para explorar outras realidades e disseminar aquelas produções que nos mostram contextos diferentes. Também devemos trabalhar em como atrair as juventudes utilizando as ferramentas que elas manejam e com as quais se sentem mais familiarizadas. Devemos entender que para algumas pessoas é um privilégio poder ir a um teatro, a um concerto ou uma galeria de arte e por isso é mais acessível utilizar meios tecnológicos através dos quais eles/as possam sentir-se parte dessas produções. Por último, queria mencionar a importância que vêm tendo as artes e as produções de conteúdo nessa quarentena, sabendo e nos mostrando que não se pode viver sem a arte.
Felipe Urbas (Argentina) – Minha resposta é ambivalente, sim e não. A príncipio, acho que sim, que é necessária a introdução de tecnologia na educação tradicional porque é uma ferramenta e uma utilidade que a educação há cinquenta anos não tinha e que é importante incluir.
Mas também acho que não dá para cair na falsa crença de que a interação humana pode ser substituída pela interação através de uma câmera. Ou seja, quando se faz essa pergunta, é preciso colocar também as prioridades que se acredita serem importantes no sistema educativo.
“A interação social não pode ser reposta em um trabalho de grupo em que todas as respostas sejam respondidas pelo whatsapp. A interação se dá no dia a dia, no entendimento dos problemas da outra pessoa, por que chegou um dia chorando à escola. Essa é a interação real e essa é para mim uma das partes mais importantes da educação” (Felipe Urbas, da Argentina).
Em minha opinião, além do aspecto puramente pedagógico da educação, há um aspecto muito importante, sobretudo na educação inicial, primária e secundária, que é a interação social dos alunos. A interação social não pode ser suplantada por uma reunião por skype. A interação social não pode ser reposta em um trabalho de grupo em que todas as respostas sejam respondidas pelo whatsapp. A interação se dá no dia a dia, no entendimento dos problemas da outra pessoa, por que chegou um dia chorando à escola. Essa é a interação real e essa é para mim uma das partes mais importantes da educação.
Quais problemáticas enfrentam atualmente os jovens bolivianos com relação aos direitos educativos?
Gabriel Villarpando (Bolivia) – O problema atual é muito latente – graças à transição política pela qual estamos passando e as mudanças que estamos presenciando quanto a nossa máxima autoridade dentro do Ministério da Educação – que temos é que não está sendo implementada uma educação integral em sexualidade. Refiro-me às malhas curriculares, esse é o problema mais importante e mais reiterado hoje em dia quanto às dificuldades que nós temos como jovens. É bastante complicado, não existe a possibilidade de cursar uma matéria sobre educação sexual. É o problema que enfrentamos, desde gestões anteriores. Esse é um assunto que nunca se abordou.
Desde o ano passado, propôs-se a implementação [da educação sexual] através de uma norma a respeito, que é a Ley Avelino Siñani, e tinham dito que iam implementar. Mas as mudanças de autoridades políticas, no Ministério da Educação, que é o ente máximo e competente para tocar esse tipo de tema, esse problema que hoje é muito mencionado em meu país não pôde receber a atenção que ele requer.
Esse é o problema mais forte que nós jovens estamos enfrentando na Bolívia, ainda mais os e as jovens que pertencem a coletivos que trabalham a temática e que não podem implementar uma educação integral em sexualidade.
Como é ser uma pessoa trans no sistema educativo?
8 de abril de 2020No contexto da celebração do Dia Internacional da Visibilidade Trans, 31 de março, conversamos com duas latinoamericanas defensoras dos direitos das pessoas trans que atuam no campo educativo. Leia mais a seguir: (mais…)
COVID-19: Para a CLADE, a solidariedade e o financiamento adequado dos direitos à educação, saúde e proteção social são caminhos fundamentais para superar a crise
25 de março de 2020Diante da crise e do estado de emergência que se instalaram no mundo inteiro, devido à pandemia COVID-19, a CLADE reconhece e valoriza as diretrizes de prevenção e cuidado com a saúde e a vida apresentadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Expressamos a nossa solidariedade com as famílias que perderam seus entes queridos por causa da doença, assim como às pessoas sobreviventes e afetadas. Igualmente, parabenizamos as múltiplas iniciativas levadas adiante por membros da rede CLADE, bem como por tantas organizações e movimentos de direitos humanos que atuam nos diferentes cantos da América Latina e do Caribe, para assegurar a proteção das comunidades educativas e seus direitos humanos. Agradecemos profundamente a trabalhadoras e trabalhadores da saúde, assim como de outras atividades essenciais, que realizam trabalhos fundamentais, colocando suas vidas em risco.
(mais…)
Especialistas e jovens dialogam sobre o direito à educação na América Latina e no Caribe
16 de março de 2020“A Educação que Necessitamos para o Mundo que Queremos: perspectivas de adolescentes e jovens da América Latina e do Caribe” foi o título deste diálogo virtual realizado pela Campanha Latino-Americana pelo Direito à Educação (CLADE), com a participação de jovens e autoridades da América Latina e do Caribe, com ênfase em abordar os desafios e propostas para a garantia do direito à educação na região. (mais…)
Novo governo na Argentina: Expectativas e lutas para a defesa da educação em 2020
31 de janeiro de 2020Para conhecer os desafios, oportunidades e expectativas para o direito à educação na Argentina em 2020, com o novo governo de Alberto Fernández, conversamos com Alberto Croce, secretário nacional da Campanha Argentina pelo Direito à Educação (CADE).
“Apesar da esperança de que o novo cenário desperta e, embora o novo presidente tenha a educação como uma de suas prioridades em seu plano de governo, é necessário levar em consideração a difícil situação econômica e social do país. Este é um ano de grandes expectativas e de muitas preocupações”, diz Croce.
Leia a entrevista abaixo.
Adolescentes e jovens compartilham suas perspectivas sobre a educação para um mundo melhor
19 de dezembro de 2019A iniciativa #AEducaçãoQueNecessitamos para o mundo que queremos tem o objetivo de mobilizar adolescentes e jovens da América Latina e do Caribe, para que expressem qual a educação que precisam para um mundo melhor e quais são as principais demandas em seus países.