Diálogo virtual destaca caminhos para educação emancipadora na América Latina e no Caribe
30 de maio de 2019
Por: Thais Iervolino
Durante o encontro, educadoras e educadores compartilharam reflexões sobre a importância dos movimentos sociais para a realização de uma educação libertadora, e a CLADE lançou o documento "Educar para a Liberdade"
Depois de reunir especialistas e representantes de seus membros em outras três reuniões virtuais, que abordaram os desafios para garantir o direito humano à educação na região, a Campanha Latino-Americana pelo Direito à Educação (CLADE) realizou, no dia 21 de maio, o último de uma série de quatro diálogos virtuais organizados no contexto da Semana de Ação Global pela Educação (SAME) 2019. Nessa ocasião, aprofundaram-se os diálogos e reflexões sobre o que é uma educação emancipadora e como garanti-la na América Latina e no Caribe.
Participaram deste encontro virtual: Luna Contreras, educadora popular e diretora do Programa de Democracia e Transformação Global (PDTG) Tejiendo Saberes Perú; Martín Ferrari, educador popular argentino e um dos cineastas do filme “A Educação em Movimento” e María Cianci, Coordenadora de Formação e Pesquisa da Coordenação Geral da Associação Latino-Americana de Educação e Comunicação Popular (ALER). Rosa Elva Zúñiga, do Conselho de Educação Popular da América Latina e do Caribe (CEAAL) foi responsável por moderar o debate.
Assista a gravação do encontro:
María Cianci: convergência entre educação e comunicação
A coordenadora de Formação e Pesquisa da ALER abordou a comunicação popular e sua relação com a educação emancipadora. “Qual é o mundo que construímos a partir da comunicação e da educação? Com que intencionalidade?”. Estas foram algumas das perguntas que apresentou para reflexão durante seu discurso.
O direito humano à educação na América Latina e no Caribe
Os três encontros virtuais organizados pela CLADE, com o lema “O direito humano à educação na América Latina e no Caribe”, destacaram questões como: orçamento educacional insuficiente; o avanço dos grupos conservadores como obstáculo à realização de uma educação democrática e emancipadora com igualdade de gênero; Agenda de Educação 2030; violência contra o protesto social; formação docente e lacunas no acesso à rede pública de ensino, etc. Leia as notícias sobre os encontros:
>> 1º diálogo
>> 2º diálogo
>> 3º diálogo
Ela também enfatizou a importância da disputa dos sentidos e da intencionalidade da comunicação. “Eu acho que é muito importante retomar as reflexões de Paulo Freire sobre palavras e contexto. Quando falamos de comunicação, em um sentido muito amplo, nos referimos às questões de nosso corpo, de nossas organizações, mas também da comunicação midiática, que nem sempre é apresentada pelos setores comunitário, popular, mas muitos dos casos vêm de uma comunicação hegemônica, autoritária e patriarcal que projeta o mundo de cima para baixo”, afirma.
Acrescentou que, para analisar criticamente essa disputa, é necessário observar as relações de poder na sociedade. “Queremos, desde a comunidade e da mídia popular, questionar essa relação de poder: quem são as vozes que nunca se comunicam? Quais são esses setores que são invisíveis? Quais são os sentidos que esses setores não conseguem comunicar na mídia hegemônica?”, questiona.
Luna Contreras: a educação emancipadora é um caminho que se tece todos os dias
Para Luna Contreras, uma educação popular libertadora deve estar conectada aos movimentos sociais,à problemática local, ao contexto e história de cada movimento e de cada lugar.
“Acreditamos que é super importante tecer o contexto em diálogo com outros movimentos, com outras histórias. Como disse a companheira que me antecedeu, ‘há vozes e histórias que foram silenciadas’, e as histórias dos movimentos indígenas, camponeses, LGBTI, feministas, trans, entre outros, não tiveram uma voz hegemônica. Por isso, consideramos essencial gerar diálogos”, explicou.
Ela também disse que seu trabalho é baseado em uma perspectiva de educação popular feminista, que considera essencial reconhecer a interseccionalidade e todas as opressões existentes em um movimento específico, onde machismo, racismo, classismo, etc., são combinados.
“Desta perspectiva, para nós, o corpo e a subjetividade são importantes o corpo e a subjetividade, e resgatar o corpo como um lugar de construção e conhecimento, reconhecer a história que nossos corpos trazem, a história da luta, a história da dor e como podemos tecer relações diferentes desde nossos corpos. Mas também como nossos corpos não estão isolados, mas fazem parte de territórios, que estão ligados, por exemplo, a comunidades mineradoras. Afeta meu corpo o que está acontecendo no meu território e tem impactos específicos se eu for mulher, homem, camponês, indígena, líder ou comerciante”, afirmou.
Em sua opinião, o processo de formação deve abordar as metodologias que resgatam todas essas dimensões, adaptando-as a cada contexto histórico.
“A busca pela educação emancipadora é um caminho que se tece diariamente, não é um lugar a ser alcançado, é um caminho em que temos que descolonizar nosso cotidiano, despatriar nossos corpos, sonhar um sistema diferente do capitalismo”, destacou.
Martín Ferrari: “Nestas escolas, eu posso ser”
O educador e cineasta compartilhou sua experiência de educação popular na Argentina. “Depois da crise de 2001, começamos a construir assembleias, ocupar fábricas, organizar movimentos educacionais para pessoas jovens e adultas. São escolas que reivindicam projetos políticos que hoje são atravessados pela pedagogia feminista e que estão construindo propostas ligadas a identidades. Eu sempre lembro de um estudante que disse ‘nessas escolas, eu posso ser’”.
Para Ferrari, o capitalismo é um projeto político que semeia a morte pela opressão e marginalização, e deve-se identificar os diferentes sinais da morte desse modelo, para construir uma educação emancipadora a partir daí. “Não se trata de procurar receitas. Temos que problematizar o sistema capitalista e patriarcal nas experiências educacionais”, acrescentou.
Lançamento da publicação “Educar para a Liberdade”
“Vamos construir nossa capacidade de esperança. Vamos nos encher de esperança”. Com esta frase, María Cianci apresentou o novo documento da CLADE “Educar para la Libertad: Por uma educação emancipadora e garantidora dos direitos”.
“Vamos a construir nuestra capacidad de esperanzar. Vamos a esperanzarnos”. Con esta frase, María Cianci presentó el documento de la CLADE “Educar para a liberdade: Por uma educação emancipadora que garanta direitos”.
A publicação reúne reflexões e debates acumulados pela rede CLADE sobre educação emancipadora, que abordam o direito à educação a partir de uma perspectiva integral e holística, na sua relação com a liberdade, transformação social, descolonização, democracia, igualdade de gênero, comunicação e tecnologias, arte e cultura, afetividade e cuidado, bem como os corpos e territórios.