CLADE participa de seminário internacional sobre pesquisa em políticas educacionais
30 de agosto de 2019
No encontro, foi lançada a Rede Latino-Americana e Africana de Pesquisadores sobre Privatização da Educação (ReLAAPPe)
A Campanha Latino-Americana pelo Direito à Educação (CLADE) participou do VI Seminário Internacional de Pesquisa do GREPPE (Grupo de Estudos e Pesquisas em Políticas Educacionais da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp), realizado na Unicamp, em Campinas, Brasil, nos dias 15 e 16 de agosto, com o tema “Privatização da Educação Básica: novos diálogos”.
Participaram do evento docentes, pesquisadoras e pesquisadores de Brasil, Chile, Argentina, Colômbia e Angola. Foram dois dias de atividades com três painéis principais e uma sessão de mesas de trabalho entre diferentes pesquisadoras e pesquisadores. Cerca de 70 apresentações abordaram os vetores, facetas e lógicas da privatização ligada à educação obrigatória e básica no Brasil, e também em outros países da América Latina, do Caribe e da África.
“As atividades do seminário foram ricos momentos de debate teórico entre pesquisadoras e pesquisadores de diferentes nacionalidades. Também participaram estudantes que pesquisam o assunto e profissionais da educação básica, com interesse e preocupação em relação à privatização no campo educacional”, afirmou Teise Garcia, professora da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Brasil, e integrante do GREPPE.
A CLADE participou da mesa de abertura do encontro e da mesa de diálogo “Consequências dos processos de privatização da educação obrigatória na África e na América Latina”, ao lado de Ilich Ortíz (Universidade Nacional da Colômbia) e Isaac Paxe (Instituto Nacional de Formação Educacional de Angola). Em sua participação, Camilla Croso, coordenadora geral da CLADE, destacou aspectos associados à privatização “da” e “na” educação latino-americana, como cortes de orçamento para a educação pública em diferentes países, a financeirização da educação, a criminalização de sujeitos da comunidade educativa, as reformas curriculares e a ascensão de testes padronizados que respondem a perspectivas reducionistas de educação, e diferentes formas de restrição ao pensamento crítico nos centros educativos, entre outras tendências.
No contexto do VI Seminário Internacional do GREPPE, foi lançada a Rede Latino-Americana e Africana de Pesquisadores sobre Privatização da Educação (ReLAAPPe), que será coordenada pela professora Theresa Adrião. “Proposta pelo GREPPE, mas concebida de forma coletiva por seus fundadores, a Relaappe objetiva reunir reflexões e promover diálogos acerca dos processos e efeitos da privatização da educação entre pesquisadores da América Latina, da África e de outras regiões que estudam e publicam sobre a temática da privatização da educação de forma colaborativa. Tentamos colaborar para que a internacionalização das pesquisas sobre o tema assuma uma perspectiva não colonialista”, afirma Theresa Adrião.
Camilla Croso: “A ReLAAPPe chega em um momento muito oportuno de aumento da privatização em nossa região e além. Essa iniciativa fortalece a cooperação e a reflexão Sul-Sul, bem como a produção de conhecimentos de pesquisadoras e pesquisadores da América Latina e da África, em português e espanhol, o que é um desafio urgente e necessário”.
A CLADE pôde contribuir com a rede, a partir da articulação com vários de seus membros latino-americanos. “A ReLAAPPe chega em um momento muito oportuno de aumento da privatização em nossa região e além. Essa iniciativa fortalece a cooperação e a reflexão Sul-Sul, bem como a produção de conhecimentos de pesquisadoras e pesquisadores da América Latina e da África, em português e espanhol, o que é um desafio urgente e necessário”, afirmou Camilla Croso.
Segundo Juan González, pesquisador de políticas educacionais do Observatório Chileno de Políticas Educacionais (OPECH) da Universidade do Chile, e membro do Fórum pelo Direito à Educação Pública, essa é uma iniciativa muito importante, no momento atual. “A privatização é apresentada com muitas faces: de nova administração pública, de escola competitiva, de uma escola pública reduzida a guetos de pobreza e também com a presença de atores empresariais que estão influenciando não apenas a escola, mas também a tomada de decisões sobre as políticas educacionais. Hoje, mais do que nunca, são necessários pesquisadores que denunciem essa situação e defendam a educação pública na região”, destacou.
Também apontou que investigar a privatização implica posicionar-se em defesa da educação pública e realizar um trabalho transdisciplinar, a partir de um vínculo real com atores educacionais que lutam por uma educação pública, gratuita e baseada em direitos, “a partir da qual possamos construir comunidades integradas, democráticas e com direitos sociais”. “Celebramos essa iniciativa e tenho orgulho de fazer parte”, acrescentou.
Por sua vez, o pesquisador do Grupo de Socioeconomia, Instituições e Desenvolvimento da Universidade Nacional da Colômbia, Ilich Ortíz, afirmou que o seminário do GREPPE foi especial por dois motivos: o primeiro, porque se dedicou ao tema da lógica da privatização no campo educacional, desde o ensino básico e pré-escolar até o ensino médio; o segundo, porque inaugurou a Rede Latino-Americana e Africana de Pesquisadores sobre Privatização da Educação. “Foi a criação de uma estrutura institucional para dar visibilidade à produção acadêmica dos países do sul. É uma cooperação e um estabelecimento de vínculos de acompanhamento e apoio entre pesquisadores e pesquisadoras do sul global que trabalham, produzem, pesquisam e se especializam em questões educacionais, mas principalmente na análise, no monitoramento e na compreensão dos impactos e características da privatização da educação”, afirmou Ortíz.
Ilich Ortíz: “A questão da privatização é essencial por sua atualidade. Há três décadas, assistimos a diferentes ondas de privatização, com diferentes atores e lógicas, no campo da educação básica, o qual tradicionalmente esteve sob responsabilidade do Estado, mas hoje se encontra aberto à participação privada de várias maneiras”.
Ele também destacou o valor do GREPPE, por seu vínculo com revistas que produzem e comunicam pesquisas no Brasil. “O Grupo convoca para seus seminários internacionais uma comunidade acadêmica diversificada e bastante produtiva, com abordagens diferentes para cada edição. A questão da privatização é essencial por sua atualidade. Há três décadas, assistimos a diferentes ondas de privatização, com diferentes atores e lógicas, no campo da educação básica, o qual tradicionalmente esteve sob responsabilidade do Estado, mas hoje se encontra aberto à participação privada de várias maneiras. Foi possível organizar o lançamento de uma rede internacional de pesquisadores porque já existem uma capacidade crítica e vínculos, relações entre diferentes pesquisadores que vêm trabalhando sobre a lógica da privatização e os ciclos de ensino obrigatório, em diferentes latitudes da América Latina e da África. Acho que é um grande sucesso, um sólido apoio institucional e acadêmico, que aponta para resultados promissores”, afirmou.
Segundo Myriam Feldfeber, pesquisadora da Universidade de Buenos Aires (UBA) e coordenadora de pesquisa sobre privatização da Confederação dos Trabalhadores da Educação da República Argentina (CTERA), o seminário foi um valioso espaço de trabalho e intercâmbio sobre os processos de privatização nos países, em um contexto de violação de direitos. “O lançamento da rede gera uma visão crítica e comparativa de nossas realidades, a fim de consolidar uma perspectiva do sul, promover o diálogo entre pesquisadoras e pesquisadores sobre processos de privatização da educação e construir pontes entre a América Latina e a África, tendo como horizonte o direito social à educação”, enfatizou.
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