A Educação que Necessitamos para o Mundo que Queremos – Perspectivas de adolescentes e jovens da América Latina e Caribe

6 de agosto de 2020

O documento foi elaborado pela CLADE com o apoyo do escritório do UNICEF para a América Latina e Caribe e reforça e sistematiza as demandas e olhares de adolescentes e jovens que foram recibidos no contexto da campanha “A Educação que Necessitamos para o Mundo que Queremos”.

Realizada de outubro de 2019 a abril de 2020, a campanha buscou reunir e dar visibilidade Às vozes dos e das adolescentes e jovens da região: suas lutas, demandas e opiniões, assim como suas propostas e desafios relacionados ao direito humano à educação.


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Foto: Archivo

“É preciso visibilizar as pessoas trans na criação de projetos e políticas educativas”

1 de abril de 2020

“Somos muito poucas as pessoas trans que realmente temos acesso aos trabalhos formais e, ainda assim, conseguimos com muita dificuldade. No meu país, o acesso ao trabalho e a permanência na educação continuam sendo um problema”, afirma Alejandra Collette Spinetti Nuñez, professora de Literatura no ensino médio no Uruguai na educação pública e diretora nacional do Coletivo Trans do Uruguai (CTU).

Foto e declaração de Alejandra Collette para campanha educativa no Uruguai. Foto: Arquivo

Em entrevista à CLADE, a ativista e professora abordou os desafios e barreiras que enfrentam as pessoas trans no acesso à educação, no contexto do Dia Internacional da Visibilidade Trans, celebrado ontem (31 de março).

Segundo Alejandra, além da inclusão, a permanência e a conclusão do ciclo educativo são desafios. “Há uma realidade que leva a que as pessoas trans vivam em situação de pobreza, e não possam aceder às suas casas, nem pagar pelos serviços básicos. Leva também a que tenham uma expectativa de vida de 35 a 40 anos, na América Latina”, afirmou.

Leia a entrevista na íntegra: 

Como é ser uma mulher trans no sistema educacional, seja uma estudante ou uma profissional da educação?

Alejandra Collette Spinetti Nuñez – Ser uma mulher trans que trabalha no ensino, e também na defesa dos direitos na educação, não é fácil. Em nossos países latino-americanos, em uma sociedade machista e patriarcal, em uma educação pensada e organizada, estruturada desde uma abordagem cisgênero e heterossexual, a partir de um olhar binário, ser uma mulher trans professora significa lutar contra uma quantidade de preconceitos e imaginários populares contra os quais é preciso que lutar, procurando desarmar, romper. Por isso, não é fácil.

“Ser uma mulher trans professora significa lutar contra uma quantidade de preconceitos e imaginários populares contra os quais uma tem que lutar, buscando desarmar, romper”

A gente sofre muito, muita coisa acontece. A gente tem que provar em dobro não só que é boa profissional, como também que é boa pessoa, moralmente e eticamente inquestionável, o tempo todo e com uma constante demonstração disso. É uma luta que te leva uma vida.


Quais são as principais problemáticas que as pessoas trans enfrentam na América Latina e no Caribe, e especialmente em seu país?

Alejandra Collette Spinetti Nuñez – Primeiramente é a visão de aquilo que as famílias esperam, na educação e no trabalho, ou seja, o binarismo. Se te atribuem o género masculino, [esperam que] você se construa neste gênero. Se te atribuem o gênero feminino, [esperam] que você se construa no feminino.

Por isso, quando as pessoas trans construímos nossa identidade, nosso corpo, nossa expressão de gênero, o inesperado, enfrentamos a discriminação, a violência, o assédio. Isso leva ao bullying na educação, ao não ingresso no mercado de trabalho, a não ser levadas em conta dentro do sistema de saúde para uma saúde integral trans. Consequentemente, deixa como único destino às mulheres trans o trabalho sexual, e aos homens trans, o desemprego ou o trabalho braçal.

“Para além da inclusão – podemos incluir, eu vou e me inscrevo em uma universidade e estou incluída – o problema é a permanência e finalizar o ciclo educativo”

Somos muito poucas as pessoas trans que realmente temos acesso aos trabalhos formais e, ainda assim, conseguimos com muita dificuldade. No meu país, o acesso ao trabalho e a permanência na educação continuam sendo um problema. 

Eu sempre falo que para além da inclusão – podemos incluir, eu vou e me inscrevo em uma universidade e estou incluída – o problema é a permanência e terminar o ciclo educativo. Portanto, há uma realidade que leva a que as pessoas trans vivam em situação de pobreza, não possam ter acesso às suas casas, nem pagar pelos serviços básicos. Leva também a que tenham uma expectativa de vida de 35 a 40 anos, na América Latina.


Alejandra Collette (esquerda) com outros integrantes do Coletivo Trans do Uruguai. Foto: Arquivo

Qual é a importância do universo trans para a educação? E qual é a importância da educação para as pessoas trans?

Alejandra Collette Spinetti Nuñez – A importância do universo transgênero para a educação é a mudança cultural. Que tanto professores quanto estudantes possam ter uma pessoa transgénero em seu centro educativo, em seu grupo de aula, leva a essa luta que impulsionamos hoje, que é a mudança cultural. A mudança cultural em primeiro lugar, porque é isso que nos levará à inclusão e permanência.

Para as pessoas trans, a educação é a coisa mais importante porque permite alcançar a mudança social, a mudança cultural e o acesso a locais de trabalho, aos quais sem educação não é possível alcançar.


Quais políticas públicas são necessárias na educação para a igualdade de género e o respeito à diversidade sexual?

Alejandra Collette Spinetti Nuñez – As políticas públicas têm a ver com acompanhar o universo transgênero na educação, com a contenção de vínculo, o acompanhamento, intervir em situações de bullying e discriminação, com oferecer ferramentas às pessoas trans e pessoas da diversidade sexual para a permanência, para a conclusão de seus estudos. Também têm a ver com dar ferramentas à equipe de professores e à equipe diretiva para não discriminar, para não exercer bullying, para incluir e ajudar estas pessoas.


De que modo os diferentes espaços educativos (escolas, estabelecimentos de ensino, universidades, órgãos governamentais, etc.) tratam esta questão e como deveriam abordá-la?

Alejandra Collette Spinetti Nuñez –  Hoje, na América Latina e no Caribe, a educação não está tratando a questão da diversidade sexual, de gênero, de expressão do gênero.

Muitas vezes, os professores tratam da questão, mas só fazem isso por compromisso social, mas a educação como tal, como sistema, não aborda esta questão e deveria abordá-la a partir da perspectiva não cisgênera, não binária, a partir de um olhar transversal e interseccional.

Para isso, são necessárias outras pessoas atuando na educação. Em geral, a educação de nossos países latino-americanos é dirigida por homens ou mulheres cisgênero, heterossexuais, que só conhecem o tema da diversidade sexual pelos meios de comunicação. Não lhes interessa sensibilizar e trabalhar no assunto.

“A forma é dar visibilidade às pessoas trans e incluí-las na geração de projetos educacionais e políticas educativas, bem como no monitoramento dessas políticas”

É do interesse dos sistemas educativos de alguns países “educar os mais pobres”, no caso dos governos mais progressistas. Outros nem sequer têm interesse nisso, e menos ainda vão ter interesse na diversidade sexual e na identidade e expressão de género. Acho que para isso precisam incluir nos seus cargos diretivos assessores, consultores que sejam pessoas da diversidade de gênero.

Não diria da diversidade sexual, porque esse é um tema “mais aceito”. Se diz, por exemplo: “é gay, mas por mais que seja gay, é masculino”. E assim é muito mais aceito. A mulher lésbica, se é feminina, não tem problema. O problema surge com as pessoas trans.

Eu acho que a maneira [de mudar este cenário] é dar visibilidade às pessoas trans e incluí-las na criação de projetos educativos e políticas educativas, bem como no monitoramento dessas políticas.


Foto: Archivo Facebook

Susy Shock: “Temos que pensar em uma instituição educativa que não seja heterossexual”

31 de março de 2020

“E nisso caminhamos agora que largamos a sentença pensando tudo, dando a volta em tudo, talvez até nos desentendendo de tudo. Não queremos ser mais esta humanidade”, disse a artista e ativista Susy Shock ao início da declamação de seu poema (em espanhol), no Facebook, a propósito do Dia Internacional da Visibilidade Trans, celebrado em 31 de março.  (mais…)


Especialistas e jovens dialogam sobre o direito à educação na América Latina e no Caribe

16 de março de 2020

“A Educação que Necessitamos para o Mundo que Queremos: perspectivas de adolescentes e jovens da América Latina e do Caribe” foi o título deste diálogo virtual realizado pela Campanha Latino-Americana pelo Direito à Educação (CLADE), com a participação de jovens e autoridades da América Latina e do Caribe, com ênfase em abordar os desafios e propostas para a garantia do direito à educação na região.  (mais…)


Ações para defender a educação em nossa região e muito mais: CLADE publica seu relatório quadrienal

4 de outubro de 2019

A CLADE apresenta seu Relatório de Actividades 2015 – 2018. Nesse período, a rede impulsionou uma série de ações de incidência, participação, mobilização, comunicação, articulação interinstitucional, pesquisa, bem como análises e posicionamentos públicos, para contribuir com a realização do direito à educação ao longo da vida.  (mais…)


Foto: archivo CLADE

Jovem argentino representa a CLADE no Fórum da Sociedade Civil da ONU

27 de setembro de 2019
Felipe Urbas em seu discurso na ONU

“O que estou exigindo é que eles se comprometam a acabar com essa correlação de força entre experiência e conhecimento para sentar e conversar. Só então teremos um mundo melhor”, disse o jovem argentino Felipe Urbas, durante seu discurso no Fórum da Sociedade Civil sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), realizado em Nova Iorque em 24 de setembro, no âmbito da Cúpula das Nações Unidas sobre os ODS.
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Foto: Sandra Lázaro

“Na educação, é preciso pensar em outras dimensões da vida, como participação social, conscientização e pensamento crítico”

26 de setembro de 2019

Na ocasião do “Fórum Internacional sobre Inclusão e Eqüidade na Educação” da UNESCO, ALER e CLADE conversaram com Carlos Vargas, do Escritório Regional de Educação para a América Latina e o Caribe da UNESCO (OREALC/UNESCO), que comentou sobre o Lacunas sociais atuais e desafios para a inclusão na educação na região.
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Foto: Jamaica Information Service

Educação inclusiva na Jamaica: Esforço para responder às necessidades de estudantes com deficiência

Nesse diálogo, Sharon Anderson Morgan, representante do Ministério da Educação da Jamaica, disse que atualmente o sistema educacional na Jamaica propõe a missão de se tornar inclusivo, passando de políticas baseadas em competências para um esforço e uma perspectiva que busca responder a as necessidades das e dos estudantes.”Ainda temos algumas escolas segregadas, mas estamos nos movendo para uma educação inclusiva, com a adaptação do currículo nacional para atender a diferentes necessidades”.

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Fórum da UNESCO: Trajetórias educacionais para inclusão e equidade foram discutidas

23 de setembro de 2019

Na manhã de 12 de setembro, no âmbito do Fórum Internacional sobre Inclusão e Equidade na Educação da UNESCO (11 a 13 de setembro em Cali, Colômbia), a CLADE participou da sessão temática de diálogos “Fortalecendo trajetórias educacionais para inclusão e equidade”.
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Camilla Croso: “Precisamos de avaliações formativas que reconheçam a diversidade e os diferentes contextos”

“É preocupante o fato de prevalecerem sistemas de avaliação de resultados de aprendizagem, internacionais ou nacionais, que não reconheçam os contextos, a diversidade de idiomas, culturas e singularidades de diferentes localidades e territórios”, disse Camilla Croso, coordenadora geral da Campanha da América Latina pelo Direito à Educação (CLADE) durante sua participação na mesa de diálogo “Currículos e avaliação inclusivos para acompanhar estudantes em sua diversidade”.
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