Escola mexicana promove pintura de mural sobre #AEducaçãoQueNecessitamos
10 de março de 2020
Por: Carolina Osorio
Estudantes e professora de Morelia (Michoacán, México) relatam a experiência de pintar um mural na fachada de sua escola, com o objetivo de expressar ideias, emoções, sonhos e inquietudes de adolescentes e jovens, sobre seu direito à educação
No contexto da campanha regional #AEducaçãoQueNecessitamos para o Mundo que Queremos, realizada entre outubro de 2019 e março de 2020, estudantes, artistas e docentes se uniram na Escola Preparatória Prefeco Melchor Ocampo, localizada na cidade de Morelia, no estado de Michoacán, México, para pintar um mural em que apresentam as expectativas e opiniões de adolescentes e jovens sobre seu direito à educação.
O mural foi elaborado a partir de um processo de diálogo e reflexão entre a comunidade educativa, bem como uma parceria com os artistas da comunidade de Cherán, Michoacán: Bethel Cucue e Alain Silva. Na versão final do mural, não só se reflete a participação de estudantes em um diálogo sobre seu direito à educação, mas também se expressam suas ideias, emoções, sonhos e inquietudes, assim como a identidade particular das juventudes.
Para saber mais sobre essa iniciativa, a Campanha Latino-Americana pelo Direito à Educação (CLADE) conversou com a coordenadora cultural da escola, Paulina Mojica, e dois dos estudantes que participaram da atividade: Brandon Vargas, de 17 anos, e Yafeth Ulises Soto, de 16 anos.
“Representamos, em um mural, nossas ideias sobre o tema da campanha #AEducaçãoQueNecessitamos para o mundo que queremos, e assim buscamos inspirar mais estudantes a seguir crescendo pessoal e profissionalmente”, afirmou Yafeth.
Leia a entrevista completa.
Como surgiu a ideia de elaborar um mural artístico na escola e como a iniciativa se relaciona com a campanha #AEducaçãoQueNecessitamos?
Paulina Mojica- Assim que soubemos da campanha lançada pela CLADE, em parceria com o UNICEF, com o objetivo de escutar e recolher as propostas e os desafios de adolescentes e jovens, sob o nome “#AEducaçãoQueNecessitamos para o Mundo que Queremos”, imediatamente nos chamou atenção a temática e sentimos muita vontade de participar, motivo pelo qual lançamos uma convocatória entre nossos estudantes, para que desenhassem um mural que refletisse sua visão sobre a educação, o qual posteriormente seria pintado por eles mesmos em um dos principais muros da instituição.
No mural, encontramos elementos que representam a preocupação pela natureza e com a educação. Cada um de nós compartilhou suas ideias e as manifestou no mural, sendo partícipes no processo coletivo de elaboração. As inquietudes compartilhadas se mostraram muito próximas entre si, como a paz representada com a pomba de origami, ou o universo como metáfora para o conhecimento infinito.
Mais que dizer o que significa cada um dos elementos, convidamos à contemplação e à reflexão sobre o que representam para cada pessoa. Encontramos palavras em p´urhepecha [idioma falado pelos membros do povo purépecha, do ocidente do México], como “juchari uinapikua”, que quer dizer “nossa força”, e “xarhatakuarhikuarhu”, uma palavra composta que quer dizer “os jovens estão presentes”.
A identidade é importante, vivemos em um planeta chamado Terra, em um país chamado México, somos parte de uma cultura, vivemos em comunidade e coexistimos. Os estudantes da Prefeco estão presentes.
Yafeth Ulises Soto Rosales – Buscamos representar, em um mural, nossas ideias sobre o tema da campanha #AEducaçãoQueNecessitamos para o mundo que queremos, e assim inspirar mais estudantes a seguir crescendo pessoal e profissionalmente”,
Brandon Vargas – A ação buscou a conexão com as pessoas, dando atenção aos problemas de cada estudante e a suas inquietudes, que em muitas ocasiões por qualquer motivo não se expressam.
Quem elaborou o mural?
Paulina Mojica- Recebemos mais de 15 desenhos distintos de estudantes, alguns elaborados em equipe e outros de forma individual. Posteriormente, em nome da nossa instituição, convidamos dois muralistas profissionais da comunidade de Cheran, para que nos ajudassem a escolher o desenho ganhador. Mas, o que aconteceu foi maravilhoso: em vez de eleger um só ganhador, decidimos reunir os criadores dos quatro melhores desenhos para que, juntos, desenhassem um mural em que fossem representadas todas as suas ideias.
Estudantes, junto com os muralistas, executaram o desenho. Antes de pintar o mural, cada um deles falou sobre a sua visão em relação ao direito à educação, e o significado de cada um dos elementos colocados em seus desenhos originais. Assim, aos poucos, com as contribuições de todos, foram chegando a um desenho que fusiona todas as visões. No dia seguinte, nossos estudantes, orientados pelos muralistas, começaram a pintar o mural.
Brandon Vargas e Yafeth Ulises Soto Rosales- O mural foi realizado por nós e outros três estudantes da Prefeco, com a ajuda de dois muralistas profissionais de Cheran.
Como souberam da campanha #AEducaçãoQueNecessitamos e decidiram participar?
Paulina Mojica- Costumamos nos perguntar: Como deve ser a educação para conseguirmos a mudança que queremos ver no mundo? E essa, como todas as boas perguntas, tem a capacidade de nos incomodar, de nos provocar, de nos afastar da complacência. Isso acontece tanto com docentes, quanto com estudantes, mas as únicas vozes que costumamos escutar são as de docentes e pedagogos. Nessa ocasião, decidimos escutar a voz de nossos estudantes, e por isso nos unimos a essa campanha que conhecemos pelo professor Juan Hurtado Chagoya.
Yafeth Ulises Soto Rosales – Com os demais colegas, realizamos, cada um, um “protótipo” do que queríamos representar [no mural] e, depois, decidimos tomar certos aspectos dos nossos rascunhos e incorporá-los de uma maneira harmônica, para que a mensagem refletisse tudo perfeitamente.
Brandon Vargas – Um dos professores da escola trouxe a ideia, e depois a escola nos propôs a atividade. A ideia do painel final surgiu com muito amor e entrega, do zero, com base em quatro murais..
Qual foi a sensação ou o aprendizado de participar da campanha #AEducaçãoQueNecessitamos?
Paulina Mojica- Nossos estudantes estão continuamente buscando formas de expressar sua visão sobre a educação que recebem. Muitas vezes, o fazem pela palavra. Nessa ocasião, demos a eles a oportunidade de fazê-lo por meio de imagens e do desenho de um mural.
Yafeth Ulises Soto Rosales – Desde que a atividade foi proposta, e vimos que era para os estudantes, decidimos participar, já que nós também queremos um mundo melhor, com uma visão inovadora.Além disso, queremos que a mensagem vá dirigida às novas gerações. Quem melhor para expressar essa mensagem que nós estudantes?
Brandon Vargas – A ideia do mural surgiu depois da proposta de participar da iniciativa, e a partir das inquietudes de cada um dos estudantes.
Para vocês, qual é #AEducaçãoQueNecessitamos para o mundo que queremos?
Paulina Mojica- É uma educação que forme para a vida, e não para obter um título e pendurá-lo na parede. É uma educação inclusiva, criativa, tolerante, respeitosa, congruente, que desenvolva em nossos estudantes, desde o pensamento lógico e matemático, até a expressão artística.
Yafeth Ulises Soto Rosales – Uma educação laica, gratuita e inclusiva para todos, em especial para aqueles com alguma deficiência (como a cegueira, por exemplo). Uma educação sem distinção por raças ou etnias, que se mostre interessante tanto para estudantes, quanto para docentes que amem seu trabalho.
Brandon Vargas – Uma educação transparente, que consista em nos ensinar de forma sincera e nos dando a versão que merecemos.
Pensam em realizar outras ações sobre o mesmo tema ou a iniciativa?
Paulina Mojica- Estamos pensando em realizar um concurso de curta metragens e outro de narração. Além disso, muitos estudantes têm mostrado interesse em elaborar outros murais em outros espaços da instituição.
Yafeth Ulises Soto Rosales – Se tivermos a oportunidade de impulsionar mais atividades para mais pessoas, com muito prazer participaria.
Brandon Vargas – Sim, claro, temos a sorte de contar com mentes e ideias impressionantes na instituição.
Vocês identificam alguma transformação positiva por terem participado da campanha?
Paulina Mojica- Sim, no sentido do pertencimento de estudantes à instituição, e de reconhecimento de suas opiniões, dado que o desenho foi realizado por eles mesmos. Isso os empoderou muito, não só os jovens que participaram diretamente, mas a grande maioria de nossos estudantes. Ao verem o mural, eles [as/os estudantes] não observam a visão de docentes ou de um pedagogo alheio a sua perspectiva, mas sim, enxergam a visão de seus colegas, que não é alheia à deles mesmos.
Yafeth Ulises Soto Rosales – Sim, os estudantes agora se atrevem a buscar novas possibilidades, sabem que são escutados pelos maestros e que podemos aspirar a mais, tanto quanto quisermos.
Brandon Vargas – Sim, esta atividade nos ajudou a abrir os olhos, deu-nos a possibilidade de ver a realidade das coisas, de ver nossas ideias, de valorizá-las. Deu-nos a possibilidade de ver tudo.