Centro Linguística da Universidade NOVA de Lisboa

Educação em Portugal: “Se um estudante não está incluído, este é um problema de toda a escola”

13 de setembro de 2019

João Costa, vice-ministro da Educação de Portugal, conversou com a ALER e a CLADE sobre as políticas de inclusão educacional em seu país e sua importância para a sociedade

ALER e CLADE conversaram com João Costa, vice-ministro da Educação de Portugal, no contexto de sua participação na mesa-redonda ministerial “Garantindo que todas e todos os estudantes contem”, no primeiro dia de atividades do Fórum Internacional sobre Inclusão e Equidade na educação. O evento acontece entre os dias 11 e 13 de setembro em Cali, Colômbia, por iniciativa da UNESCO, em parceria com o Ministério da Educação da Colômbia e a Prefeitura de Cali.

Na entrevista, Costa disse que, em Portugal, 97,5% das crianças e jovens com deficiência estão matriculados em escolas do sistema público de educação formal, mas que tais centros educacionais nem sempre são tão inclusivos quanto deveriam, e o governo propôs o desafio de avançar nesse sentido. “Recentemente, aprovamos novas leis que dão flexibilidade às escolas nos currículos, para que as estratégias de inclusão possam ser melhor articuladas ao perfil real de todos os alunos. Se um estudante não é incluído, isso é um problema de toda a escola, e não apenas dele ou de sua família”, afirmou.

Acrescentou também que uma nova forma de avaliação nas escolas foi criada no país, vinculando a qualidade educacional ao nível de inclusão nas escolas.

Costa disse ainda que o novo governo do país abandonou a visão anterior, de que as aulas de português e matemática são as únicas disciplinas estruturais. Assim, o esporte e a arte foram reforçados nos programas escolares, e são abordados a partir de seu papel de inclusão pois, para muitos estudantes, são essas áreas que propiciam as primeiras experiências em que se sentem parte da escola. “Esportes e arte são portas de entrada para o currículo, porque permitem trabalhar a auto-estima, o grupo e as emoções”, afirmou o vice-ministro. Ele acrescentou que, muitas vezes, os principais obstáculos à inclusão são emocionais e sociais.

Em relação às políticas públicas, Costa apontou que a educação aborda questões além do campo educacional e deve se concentrar nas pessoas, não nos números (estatísticas). “Isso significa colocar a dignidade da pessoa em primeiro lugar nas políticas de saúde pública, finanças, emprego, migração … Infelizmente, sabemos que isso nem sempre acontece. Temos bons discursos sobre inclusão, mas fechamos fronteiras, criamos políticas baseadas na competitividade. Eu acho muito falso dizer que você está preocupado com a inclusão na educação e, ao mesmo tempo, não possuir um conjunto de medidas compatíveis com esse discurso”, concluiu.

Escute a entrevista completa:


Entrevista e áudio: María Cianci, da ALER

Texto:
Samuel Grillo, da CLADE