Uruguai: Secundaristas demandam a criação de banheiros inclusivos em suas escolas
22 de março de 2019
Estudantes do Liceu nº 63 de Montevidéu, Uruguai, defendem a existência de banheiros “para todas as identidades, corporalidades e sexualidades” em seu centro educacional
As manifestações de estudantes do ensino médio do país exigem a criação de banheiros de gênero neutro nas escolas dessa etapa educativa, questionando a divisão de banheiros públicos para homens e mulheres, o que, em sua opinião, reproduz as heteronormatividades e a ordem patriarcal, excluindo outras identidades.
Afirmam que essa medida é importante para aprofundar as transformações sociais e culturais que reconhecem a liberdade de expressar os diferentes gêneros e sexualidades, a partir da auto-percepção, e também avançar no reconhecimento da diversidade de hábitos, comportamentos e ideias presentes nas práticas cotidianas, como o uso do banheiro.
O caso do Liceu nº 63 não é isolado, mas sim o mais recente de uma série de centros educacionais em que houve manifestações similares de estudantes secundaristas nos últimos anos no país. Ano após ano, como parte do mês da diversidade, o Sindicato dos Estudantes do Instituto Alfredo Vásquez Acevedo (IAVA) convida estudantes a irem de saia para o liceu, incluindo os meninos. Além da busca por superar os estereótipos de gênero relacionados ao vestuário, a manifestação demandou que os banheiros não fossem associados à divisão entre homens e mulheres, objetivo alcançado em 2018.
Tsaia Silva, porta-voz do sindicato, explicou ao jornal La Diaria que os banheiros do liceu devem ser “de gênero neutro” e que não apoiam a denominação de “banheiros mistos”, porque isso implica reconhecer apenas dois gêneros, quando existem pessoas que não se identificam com nenhum deles. “Há outra realidade e queremos continuar com a bandeira da igualdade, da diversidade e da integração. É uma reclamação de muitas pessoas que não se sentem confortáveis em ir ao banheiro porque um gênero é estabelecido”, acrescentou.
Diante das manifestações estudantis, a diretora do Conselho de Ensino Médio, Ana Olivera, disse ao jornal El Observador que serão garantidos banheiros inclusivos para todas as escolas de ensino médio do país. Ela esclareceu que a ideia não é que os banheiros de homens e mulheres sejam eliminados, mas sim que aos existentes sejam adicionados banheiros inclusivos, universais ou unissex.
Para a diretora, essas modificações nos edifícios permitirão também a abordagem de temas relacionados a gênero, sexualidade e respeito nos liceus.
Educação e igualdade de gênero
As manifestações estudantis no Uruguai são exemplos de como a questão de gênero se relaciona ao direito à educação em condições de igualdade, sendo uma questão fundamental para o desenvolvimento humano o direito de meninas, mulheres e pessoas LGBTI a uma vida livre de violência e discriminação.
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) incluem metas e objetivos destinados a eliminar todas as formas de discriminação contra todas as mulheres e meninas, e o Marco de Ação para a Educação 2030 reconhece que “a igualdade de gênero está intrinsecamente ligada ao direito à educação”.
“Entendemos que é urgente eliminar barreiras ideológicas, culturais e estruturais para garantir a igualdade de gênero e superar a discriminação e a violência baseadas no gênero a partir da educação, e na educação”, defende a Campanha Latino-Americana pelo Direito à Educação (CLADE).
Leia mais sobre as propostas e ações da CLADE em relação aos temas gênero e educação.