“Na educação, é preciso pensar em outras dimensões da vida, como participação social, conscientização e pensamento crítico”

Na ocasião do “Fórum Internacional sobre Inclusão e Eqüidade na Educação” da UNESCO, ALER e CLADE conversaram com Carlos Vargas, do Escritório Regional de Educação para a América Latina e o Caribe da UNESCO (OREALC/UNESCO), que comentou sobre o Lacunas sociais atuais e desafios para a inclusão na educação na região.

“O contexto regional é a desigualdade. 30% da população sofre de pobreza; e 10% da pobreza extrema. Isso marca muitos obstáculos à inclusão educacional, que podem ser estruturais, como pobreza multidimensional e desvantagens acumuladas; e podem ser situacionais, como a migração, a flexibilidade da oferta educacional para atender às necessidades de grupos vulneráveis – pessoas com deficiência, pobreza, diversidade cultural, linguística e sexual”, afirmou.

Ele acrescentou que também existem barreiras motivacionais. “Os estudantes não estão terminando o ensino médio, estão sendo expulsos ou estão se separando do ensino, mesmo nas condições em que poderiam continuar seus estudos porque há recursos para isso. Isso nos diz um pouco sobre a falta de relevância social e cultural das ofertas educacionais, focadas em uma tradição de sistemas na homogeneização da educação – em pensar em um único estudante, e não na diversidade que existe e currículos necessários para atender às diversas necessidades, aos diferentes contextos e características da população. Para isso, seriam necessários: currículo diversificado, educação na língua materna no caso dos povos indígenas e educação com conteúdos específicos para superar as desigualdades”, destacou.

Educação para superar as desigualdades: além da ascensão social

Carlos Vargas disse que a educação ainda é vista como um veículo para a ascensão da mobilidade social na região. No entanto, ele ponderou que as oportunidades para as e os jovens ingressarem no mercado de trabalho, desde a educação, são muito limitadas.

“Isso se deve, como eu disse anteriormente, à falta de relevância. Continuamos pensando em currículos muito estruturados, mas de maneira escolástica. Deveríamos pensar mais em outras dimensões da vida, que têm a ver com participação social, consciência e pensamento crítico, com a possibilidade de mudar as condições de vida. Isso também envolve pensar no emprego e no trabalho de uma maneira diferente, a partir de habilidades que o habilitam, não apenas nas habilidades técnicas, acadêmicas, de linguagem e matemática, que é o que os testes padronizados costumam medir, mas nessas outras habilidades consideradas suaves, mas não menos importante, como a resolução de problemas e conflitos, convivência na diversidade, aprender a conviver e aprender a ler o ambiente, como disse Paulo Freire”, destacou.

Relatório regional

No âmbito do Fórum Internacional mencionado, o Relatório de Monitoramento sobre Educação no Mundo (GEM/UNESCO) organizou uma reunião paralela para discutir dados e tendências preliminares apresentados na formulação de uma edição regional especial do Relatório, que será lançado em março de 2020: o GEM 2020 sobre o Direito à Educação e Inclusão na América Latina e no Caribe.

Carlos Vargas comentou o que é esperado do conteúdo do relatório regional. “O compromisso da comunidade internacional capturada no ODS 4 [Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 4, referente à educação], de garantir educação inclusiva, equitativa e de qualidade, com oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todas as pessoas, tem exatamente esse foco, um foco na inclusão e na equidade. O que este relatório vai revelar tem a ver com quais são as barreiras à inclusão, que são múltiplas e se cruzam. Isso aliviará as barreiras e quais são as causas de vulnerabilidade de diferentes grupos populacionais, como os da pobreza, indígenas, afrodescendentes, mulheres, diversidade sexual e pessoas privadas de liberdade, etc.”, afirmou.

Ele acrescentou que o relatório deve revelar não apenas a situação regional e um raio-x diagnóstico da desigualdade educacional na América Latina e no Caribe, mas também abordar suas causas profundas e estruturais, bem como maneiras de mudá-la.

“Essas mudanças são uma parte importante da responsabilidade dos Estados, de estabelecer políticas educacionais que dialogem com políticas sociais, políticas habitacionais e políticas de emprego, a fim de abordar as causas estruturais da desigualdade. Esperamos que as recomendações provenientes dos estudos possam se tornar recomendações de políticas públicas e ações sociais para cidadãos e comunidades educacionais”, enfatizou.

Ouça a entrevista completa abaixo:


Entrevista e áudio: María Cianci Bastidas (ALER)

Texto: Fabíola Munhoz (CLADE)

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