Dia da Eliminação da Discriminação Racial: dialogamos com duas defensoras da igualdade racial e de gênero

21 de março de 2019

Duas mulheres negras que são referência na luta por igualdade racial e de gênero na América Latina e no Caribe analisam a relação entre esses temas e a educação, bem como sua importância para a garantia de uma educação emancipadora

Estamos em um mês importante para a luta pelo direito à educação de todas as pessoas, em condições de igualdade. Em 8 de março, celebramos o Dia Internacional da Mulher, e hoje (21) é o Dia Internacional da Eliminação da Discriminação Racial.

Para a Campanha Latino-Americana pelo Direito à Educação (CLADE), é fundamental abordar e garantir a igualdade de gênero e de raça na educação. Além disso, é essencial assegurar o respeito e a realização dos direitos de afrodescendentes, crianças e mulheres nos diferentes espaços educativos, para que todas e todos tenham acesso a uma educação transformadora e para a liberdade.

Lembrando essas datas tão importantes, e com o objetivo de fortalecer a luta por uma educação emancipadora e que garanta os direitos humanos em nossa região, resgatamos e compartilhamos a seguir duas entrevistas, que foram realizadas em distintos momentos da trajetória da CLADE, com duas mulheres negras, latino-americanas, feministas e defensoras da igualdade de gênero e de raça: Nilma Lino Gomes, do Brasil, e Vicenta Camusso, do Uruguai.

Nilma Lino Gomes: “Por trás da ideia de ideologia de gênero há uma grande perseguição aos temas da diversidade sexual”

Foto: NH

Uma escola emancipadora é aquela em que os estudantes se emancipam, ou seja, da qual saem muito melhores do que entraram em relação a seu conhecimento sobre a vida e o mundo. Também é onde aprendem a se relacionar e a respeitar a diferença e podem fazer conexões entre o conhecimento escolar e a vida social, inclusive formando subjetividades mais críticas, que se coloquem contra qualquer forma de discriminação”.

Partindo da perspectiva da defesa de uma educação emancipadora, Nilma Lino Gomes, pedagoga brasileira, reitora da Universidade da Integração da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) e ex-ministra do Ministério de Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos no governo de Dilma Rousseff, analisa questões de gênero e raça na educação e movimentos conservadores como o “Escola sem Partido”, no Brasil.

Para ela, os temas racismo, feminismo, machismo, LGBTfobia e muitos outros que agora algumas escolas discutem são questões já apresentadas por uma dinâmica própria da sociedade, por movimentos sociais que lutam pela realização dos direitos.

“A sociedade brasileira já discute hoje esses temas, mas ainda falta atuar de forma não discriminatória. Ainda falta na relação pedagógica, na relação professor-aluno, na relação entre as pessoas, que coloquemos em prática o que já está previsto tanto no texto legal, quanto nas discussões teóricas e políticas. Esse passo rumo à prática não discriminatória ainda não foi dado no Brasil”, diz.

>> Leia a entrevista completa com Nilma Lino Gomes


Vicenta Camusso: “A formação docente é um elemento chave para superar a discriminação racial”

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A importância de que a discussão sobre gênero e a superação das diferentes formas de discriminação estejam presentes nas escolas é tema desta entrevista com Vicenta Camusso, coordenadora da Região Cone Sul da Rede de Mulheres Afro-latinoamericanas, Afrocaribenhas e da Diáspora.

Para ela, um grande desafio da região é modificar a formação docente, já que os aspectos vinculados ao racismo e a seus efeitos sociais, psicológicos e econômicos na vida das pessoas não estão incorporados aos processos de formação do magistério.

“A pobreza, a marginalidade e a exclusão nos centros de educação são formas de violência. Em relação às políticas públicas, penso que o desafio é ter perspectivas mais integrais sobre esses temas e implementar sanções, quando as políticas voltadas para essa população não sejam cumpridas. Temos legislações sobre discriminação racial e promoção da igualdade, mas algumas situações persistem porque não há sanções”, diz.

>> Leia a entrevista completa com Vicenta Camusso (en español)

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Iniciativa “Educar para a Liberdade: diálogos e ação por uma educação emancipadora” (en español)

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